Demolidor – Por Frank Miller e Klaus Janson – Volume 1

Nem só de cerveja vive o homem e, por esse motivo, ganho outros tipos de presentes também.  Nesse caso específico, este encadernado da Editora Panini, cujo título é o mesmo que dá nome a este humilde post. Ou seja, um homem vive de cerveja e quadrinhos!
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Este encadernado (Encadernado: a reunião de vários números de uma revista, série, ou minissérie, publicados em capítulos e que foram reunidos em um único volume) veio bem a calhar por conta da série televisiva de imenso sucesso que saiu pouco tempo pela Netflix.  Vários amigos meus que não leem quadrinhos vem me procurar pra comentar a série, então esta é uma boa oportunidade pra falar um pouco sobre essa edição em especial, pois ela é um marco.
Explico: foram essas histórias que fizeram a transição da mídia “Quadrinhos” de leitura para crianças para um público mais maduro (alguns gostam de citar o Arqueiro Verde/Lanterna Verde de Dennis O’Neil e Neal Adams, mas eu discordo).  Seu principal autor,  Frank Miller, primeiramente como desenhista e, mais importante ainda, como roteirista, viria se tornar um criador respeitado por ter escrito obras seminais como “Batman: O Cavaleiro das Trevas“, “Ronin” e “Sin City“, entre outras, e rompido a barreira dos quadrinhos emprestando seu talento a outras formas de arte.  Ah, e também vários elementos dessas tramas foram usados na série televisiva.
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Essa edição caprichada da Panini (capa dura, papel de alta qualidade, 340 páginas) reúne histórias que primeiramente foram publicadas de forma serializada na extinta revista “Superaventuras Marvel” da Editora Abril (que foi onde as li primeiramente, praticamente quando iniciei nos quadrinhos) e depois foram republicadas de modo mais modesto pela própria Panini há algum tempo atrás.  Oportuno dizer que o encadernado tem em sua vantagem a sua desvantagem.  A vantagem é que dá pra ler tudo de uma vez só.  A desvantagem é que você perde a expectativa gerada pela publicação de um novo número.  Lembro muito bem de eu ir diariamente na banca de jornal, ver se a edição seguinte já estava disponível.  Reler estas histórias me trouxe de volta uma nostalgia bem legal, trazendo à superfície das minhas memórias várias lembranças.
Não vou me demorar resenhando as histórias e vou me concentrar nos aspectos mais importantes das mesmas, numa tentativa de emular o que fez a Lali genialmente quando resenhou aqui mesmo neste blog Um estudo em Vermelho de Sir Arthur Conan Doyle.
As duas primeiras histórias são mais um bônus da edição, visto que são histórias do Homem-Aranha (Homarrrranha!), com participação do Demolidor, que foram desenhadas por Frank Miller (mas não finalizadas por Kalus Janson) que atuou como desenhista convidado nas edições (desenhista convidado é como eles chamam os desenhistas tapa-buraco das edições mensais – isso acontece quando o desenhista principal atrasa a entrega dos desenhos).
Devido à (boa) repercussão dessas duas edições, Frank Miller foi escalado pra ser desenhista regular da série do Demolidor.  Naquela época, a revista não estava com boas vendas e corria o risco de ser cancelada.  Miller, então um novato, juntou-se à equipe criativa, ou o que restava dela, que eram o roteirista Roger McKenzie e a outra estrela desse encadernado, o arte-finalista Klaus Janson (que iria consagrar-se, junto a Miller em “O Cavaleiro das Trevas”).
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No decorrer da leitura das histórias você vai percebendo a evolução qualitativa na trama.  Miller, não se contentando apenas em desenhar, começa a dar pitacos no roteiro até assumir a revista, roteirizando ele mesmo.  Como curiosidade, Miller vai se aproveitando de seu conhecimento do Universo Marvel (de sua paixão, pode ser?) e inserindo personagens da editora ao seu bel prazer.  Traz de volta sua namorada (do Demolidor), a Viúva-Negra (você sabia disso?), usa e abusa dos vilões do Homem-Aranha (aliás, um desses vilões, Wilson Fisk, O Rei do Crime, tornaria-se sua maior Nêmese, mais adiante na mãos do próprio Miller, na saga “A Queda de Murdock“, mas isso é outra história), dá um incremento na vida “civil” do Demolidor, inserindo e dando destaque a novos personagens na vida de Matt Murdock (a identidade secreta de nosso herói) e seu sócio da firma de advocacia, Franklin Nelson.  Também há uma luta do Demolidor com o Hulk!
Não vou dizer mais nada!
Mas o mais importante nessa edição é a criação de um personagem que se tornou um ícone: Elektra Natchios, a Elektra Assassina.  Nela, Frank Miller superou-se (e aproveitou pra inserir elementos japoneses na história, coisa de que ele é fã).  Teve até filme dela.  Sua relação com o Mercenário é digna de nota.  É o que precisam saber.  A criação desse personagem complexo foi a declaração de amor à mídia que, até hoje, é vista com um certo preconceito (mesmo com o advento de Sandman, de Neil Gaiman): a do fã de quadrinhos que virou o criador de quadrinhos.